Publicidade

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Pobre sempre se fode

Ô seu polícia, porque que to aqui, cacete? O que eu fiz de tão ruim que fez tu me colocar sentada nessa porra de cadeira, com as mãos algemadas, enquanto vejo essa tua cara feia? E pára de soltar fumaça de cigarro na minha cara, caralho. Pensa que é o que? Só porque tem fardinha e passou em concurso público acha que pode fazer isso comigo?

Sério, o que fiz de tão ruim? Estou aqui só por causa do que fiz com meu filho? É isso mesmo? Poxa, seu polícia, tu não sabe onde vivo? Ah, sabe, né? Tu vai lá todos os dias, que eu sei. Diz que vai prender uns traficante, mas, na verdade, vai é cheirar um pozinho, né, seu filho da puta?

Ei, tua maldita mãe não te ensinou a não bater em mulheres?

Ô cacete, pra que bater de novo? Não bastava tu me revistar de cabo a rabo, meter a mão onde não devia, agora fica aí, todo brabinho? Tá, ta, desculpa. Eu retiro o que disse. Só me dá um cigarro pra eu desestressar.

Quanto a tua pergunta: sim, eu trancafiei meu filho dentro de casa. Acorrentado na cama pelos pés. Queria o que? Tu tem filho, né, seu polícia? Então, sabe o que é ver o dito cujo chegar todos os dias com o nariz branco de pó e os olhos vermelhos por causa da maldita maconha? Não? Com certeza a tua mulher e teu filho sabem... Ta, desculpa, só manera um pouco aí com a tua mão.

Prendi meu filho, como já ia dizendo. O guri chegava todos os dias podre de chapado em casa e só causava problemas. Roubava igual a um condenado e vendia tudo o que tínhamos. Até as minhas calcinhas ele vendeu, sabia? Eu sei que sou gostosa, mas, porra, vender minhas roupas íntimas, que ainda to pagando em prestações?

Ah! Pára com essa de clínica de reabilitação. Tentei deixar em algumas, mas é foda, viu? Tenta achar lugar nessas porra pra pobre, tenta. A gente fica noites na fila esperando conseguir lugar e o máximo que consegue ouvir é “não temos vagas, tenta em outra, minha senhora”. E já fui em várias. Inclusive fora dessa merda de cidade, mas é sempre a mesma resposta. Aliás, tudo o que é serviço publico é uma bosta. Eu tenho os meus direitos, mas eles nunca são seguidos.

Tentei fazer de tudo. Até prum diretor filho da puta dei, mas a clinica era pior que a rua: tinha droga pra tudo o que é lugar e quem vendia eram os próprios guardinhas. Ele também era todo chapadão. Vai prendê ele, seu polícia? Não, né? Claro. Ele não é pobre, eu sou. Ah! E essa clínica era cara pra cacete, por isso que fui pra cama com o gordo fedorento. E pior que nem foder ele sabe. Fui tratada como uma vagabunda.

E agora, o que vocês vão fazer? Vão me prender, né? Ok, eu entendo. Sou uma mãe filha da puta que tranca o filho pra que ele saia dessa merda de vida de drogado. Não sou nenhuma empresária de Goiás que puxa a língua da guria com alicate, nem um austríaco que tranca o filha no porão pra dar umas fodinhas. Eu leio Diário Gaúcho, sabia? Cursei até a terceira série e não sou uma monstra, sabe?

Mas agora vocês me prendem, essa tal juíza do Conselho Tutelar diz que vai tomar as medidas cabíveis, tentar colocar ele numa porra de clínica... É foda que, pra conseguir essas coisas, a gente sempre tem que se foder. Se tivessem conseguido um lugar pra ele quando pedi, nada disso teria acontecido. Mas não, nunca tem lugar, só quando a gente toma atitudes drásticas.

É como diz aquele velho ditado: pobre sempre se fode.

6 comentários:

Felipe Fonseca disse...

Bom tema. E é verdade mesmo. Pobre sempre se fode. Felizmente tenho um caso na família que fugiu à regra.

Mar e Ana disse...

Pobre SÓ se fode. E classe média tbm ¬¬'
mas pobre, nossa... é foda =p
Minha mãe trabalha com uma ong d ajuda Às mulheres, dae a gnt sempre comenta q a pior classe pra se pertencer é a de mulher, preta, pobre e separada... SÓ se FODE =p
hahah

:*

Alessandra Castro disse...

Nossa, bem realista seu texto, detalhista e coeso. O pai sempre tenta, sempre vai lutar, mesmo que o resto da sociedade diga q ele está errado.

Anônimo disse...

Essa vida não é facíl. Se resolvemos tomar algumas atitudes frente a tantos problemas, acabamos sendo esmagado pela própria sociedade...

realidade, a mais pura realidade...

Ps: a Aritmética da sociedade anda um pouco, digamos, torta :P

Anna Carolina ; disse...

poiséé cara ..
só tenho 14 anos mesm ..
minha mae nunca vai fazer nada pra me prejudicar .. ;/
brigaada !
;)

Anônimo disse...

bã.
pior que é real... :T