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sábado, 6 de setembro de 2008

A culpa é delas

Fernando, meu filho,

Eu entendo toda a raiva que tu sente por mim. Abandonei tu e tua mãe assim, logo quando vocês mais precisavam de mim. Sei que não é fácil me perdoar, mas espero que, nestas breves palavras, possa dizer porque fiz isso.

Conheci elas há cerca de sete anos. Tua mãe nunca soube de nada. Foi assim, rápido. Meus amigos me apresentaram-nas. E eu, idiota como sempre fui, pensei que seria apenas uma aventura. Eles, aliás, me garantiram que seria apenas isso: uma aventura.

Foi então que a minha vida virou de pernas para o ar. Antes, não conseguia ficar longe delas por um mês inteiro. Tentava. Dizia que não podia com elas, não podia fazer isso, porque amo vocês. Porém, ah, porém, aos poucos elas me seduziam. Uma vez por mês, depois uma vez por semana, até ter que encontrá-las todos os dias.

Preciso dizer: elas não só foram, como são demais pra mim. Não consigo viver longe delas - e nem sei se quero. Uma delas é bem perfumada. Toda vez que a vejo, não consigo deixá-la longe de mim. Preciso daquela fragrância em minhas narinas.

A outra tu já deve ter conhecido. Minha boca não quer deixá-la nunca. Precisa ser tocada por ela. Cada vez que meus lábios a encostam, sinto-me aliviado, esqueço de todos os problemas.

Mas nem por isso é bom. Elas arruinaram comigo. Detonaram a minha vida e, sem dúvida, a de vocês. Por causa delas, roubei e matei. Hoje sou um pai e um marido ausente. E Deus sabe como eu queria não tê-las encontrado.

Infelizmente, Deus não consegue cuidar de todos. Por isso estou aqui, para pagar os meus pecados. Sei que dificilmente vai querer um conselho meu, mas mesmo assim eu te dou: fique longe da cachaça e da cocaína. Por causa delas estou aqui.

Ou melhor, estava... É foda tu tentar ficar longe das drogas, dentro dessa porra de clínica de reabilitação, quando o que tu tem é um bando de filho-da-puta te vendendo em tudo o que é canto.

Enfim, se tu tá lendo essa carta é porque não tive opções. Ou a droga acabava comigo, ou eu acabava com ela: decidi dar um fim à minha vida, mas pelo menos não precisei delas. Aliás, fazia 15 dias que não as via.

Conta isso pra tua mãe.

Amo vocês.

15 comentários:

Gabi disse...

Tô chocada.
Adoro esse tipo de texto que prende a atenção.
Ficou muito bom!
PArabéns!

Cris Medeiros disse...

Já convivi com pessoas viciadas e sei que é bem isso mesmo. A droga toma todo o espaço na vida da pessoa e não sobre lugar para mais nada, nem para dignidade e caráter, que evetualmente a pessoa tenha...

Beijos

Anônimo disse...

É, droga causa isso com as pessoas, uma hora ou outra ela acaba com você e com os demais que estão a sua volta.

P.s: Tu já escreveu sobre algo semelhante ou estou enganada?

beijos

Piero Barcellos disse...

Eu já perdi um tio por causa dessas merdas. Quando alguém chega pra mim e diz que não vicia, que parte de cada um, e que as drgas deviam ser legalizadas, é porque não sabem o que dizem.

Belo texto. Abraços

Rodrigo Dias disse...

Bianca, não estás enganada. Já escrevi um texto muito parecido com esse em abril. O link é esse

Ju disse...

nossa.. isso é que é um texto profundo... com desfecho bacana.

Juh... disse...

Amiguinhooo...

txt muito bom
chocante e real...
simples assim
;*********

T disse...

NOSSA!
Muito bom, mesmo.
Um texto muito FORTE.

E sobre você ser engraçadinho, tudo bem uai. Eu sou meio assim também meio irônica+engraçada, a gente daria um belo papo. Hahaha

Beijo

Bibi Barbarat disse...

mto bem escrito, misturou emoção com curiosidade da narração

bjuss

Tatah Marley's Confissões disse...

e eu imaginando outra coisa.. :x
adorei!
;*

Anônimo disse...

Tu foi em uma clinica de reabilitação. Bem, é foda mesmo. Adoro texto carta, a Gabi tb vez um esses dias, muito bom por sinal.

Parabéns! Teus textos sempre são muito atraentes!

besos

Lelli Ramz disse...

NÃO DEIXO Q NADA M CANSE...

não deixo q nad m control... m vície...

sou mto orgulhosa... para deixar q algo mude meu comportamento...

bjinhus, lelli

Ariana Coimbra disse...

Texto maravilhoso!

Adoreii!


Beijo

Rodrigues, K. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rodrigues, K. disse...

Confesso que pensei que seu texto terminaria de outra forma. Bela maneira de desenvolver o tema. Final profundo e tão igualmente envolvente. Já li um texto nesse mesmo ritmo, só que o tema era sobre prostituição.

Até depois.