Publicidade

segunda-feira, 21 de abril de 2008

O (maldito) quarto poder

Ainda vou descobrir quem foi o imbecil que soltou a pérola de que "o jornalismo é o quarto poder". Esta frase tornou-se uma maldição. É com essa desculpa que muitos veículos de comunicação fazem aquilo que a Justiça deve fazer: julgar as pessoas.

Não! Não te admires. Estou, sim, falando daquele caso da Isabela. É incrível como a imprensa começa a fazer o papel de investigador querendo mostrar, por todos os lados, que os culpados são os pais. Aliás, isso já foi feito logo um dia depois da morte da guria – que nem foi tão trágica assim, como todos adoram dizer.

A começar pelo jornal O Diário de S. Paulo, que estampou na manchete o "Pára pai! Pára pai!", acusando o pai de assassinato. No texto dizia que ele estava sendo acusado, mas a forma como a manchete foi feita já induz o leitor – que, boa parte, lê só o título para se sentir informado e ter o que discutir em um boteco para não mostrar que é um alheio ao que acontece nesse País – a querer linchar o dito cujo. Ele é o culpado? A Justiça, agora, aponta que sim, mas a imprensa apontava isso desde o início.

Isso dá razão à ela? Não! Julgar é papel da Justiça. A imprensa deve fazer aquilo a sua missão: informar com a maior precisão possível, mas sem sair julgando por aí se os depoimentos estão sendo verdadeiros ou falsos. Que deixem isso para quem sabe o que faz.

"Ah, mas, ontem, o Jornal Nacional mostrou uma matéria na qual dois especialistas alegavam que a entrevista concedida ao Fantástico foi orquestrada". É? Legal. Muito bacana isso, né? Mas isso não pode ocorrer – na minha visão, lógico. Tudo o que está sendo veiculado pela imprensa pode ser – e será – utilizado pela promotoria para mostrar o quão filhos da puta - a imprensa diz - que os pais foram ao matar uma guriazinha de cinco anos. Ou seja, já está induzindo a resposta e contribuindo para, como bem salientou o Piero Barcellos em uma de nossas conversas na volta da Universidade, a memória coletiva.

Parêntese: A memória coletiva, resumidamente falando, é aquela indução à possíveis fatos ocorridos que se tornam verdades de tanto que a imprensa falou. Por exemplo: estão dizendo que os pais da Isabella brigavam iguais a dois animais, justo na presença da guria. Muitos vizinhos podem vir, do nada, dizer "ah é, isso acontecia mesmo, estou me lembrando agora", mas pode ser que isso seja mentira. Cabe à Justiça concluir se era ou não verdade. Fecha parêntese.

Também não podemos negar o poder que a Rede Globo tem. Tudo o que ela disser é verdade – pelo menos é o que conclui a maioria das pessoas. Então, com a pergunta esúpida de um repórter da Globo feita ontem – ele fez, mais ou menos, porque não anotei, a seguinte declaração em um stand-up: "A entrevista que os acusados deram ao Fantástico é verdadeira ou foi orquestrada? Essa pergunta, só a Justiça pode responder" – já está definido na (falta de) inteligência de muitas pessoas: os pais são culpados.

O problema disso tudo é que, apesar de improvável, pode ser que os dois sejam inocentes. Uma repetição do Caso Escola Base pode estar acontecendo. E, caso a imprensa esteja errada, corrigir vai ser uma tarefa difícil – se é que ela vai corrigir, porque jornalista odeia assumir erros, a não ser que sejam por notas de rodapé em letras pequenas que ninguém lê.

***


P.s.: Vale dar uma conferida no texto que a Raquel Piegas fez em seu blog, falando sobre a mania do ser humano de querer saber das merdas que ocorrem na vida dos outros.

P.s.2: O mesmo vale para o texto da Vanessa Botega.

9 comentários:

Anônimo disse...

Caro Rodrigo:

Tomado de um repentino sentimento de piedade por seu espanhol ruim (igual ao meu, devo admitir), aqui está a tradução do anúncio que fiz no meu Blog. Qualquer comentário será feito entre parênteses.

Serviço de utilidade pública - Anúnico de produro
(Lembre-se do mais importante: foi "Feito no México")

Nome: Jesús Bogamber Barrera
Estado civil: Solteiro, buscando companhia
Cidade de origem: Algum canto à margem do Rio Bravo, no México
Aptidões físicas: Quando está bêbado, fica musculoso. Quando está sóbrio, quem sabe?
Idade: 23 anos e uns meses
Tamanho do pinto: um tamanho bom (... nada a comentar)
Procura: Namorada bonita e que saiba cozinhar, ou namorado com dinheiro e carro do ano)
Um sonho: Viajar ao Brasil, para conhecer o que a baiana tem
Um filme: Goodzila versus Mothra
Uma música: Cielito lindo - Los Pericos (é aquela que diz "ai ai ai, está chegando a hora..." um clássico hehehehehehe)
Uma cor: cor de água
Um pensamento: "Em boca fechada não entra garfo"
Sua descição pessoal: "Sou o cara" (basicamente é isso o que aquele texto todo quer dizer... vai por mim, os mexicanos não sabem ser objetivos nem modestos...)
Já foi à África: nunca
Já tentou atravessar a fronteira dos EUA clandestinamente: sim, mas é segredo
Um lugar ideal para um encontro romântico: em cima da Terra, embaixo do céu, qualquer lugar está bom... só não pode faltar camisinha e lubrificante (sic)
Contatos: telefone, e-mail ou cartas enviadas à sua casa

That's it, man!!!!

Anônimo disse...

Bom, agora que fiz a minha segunda boa ação do dia...
(a primeira foi uma boa ação misturada com uma má ação que no fundo foi boa também... eu estava atravessando uma calçada, muito pensativo, e uma senhora me pediu para chutar algo... eu não atentei para o que era e taquei o pézão no que ela me pediu para chutar. E um gato foi parar no meio da rua! Mas tudo bem: no merci com gatinhos!)

Li com cuidado teu texto...
Tenho algumas considerações a fazer, mas honestamente meus olhos estão vestindo pijamas, e desconfio que um deles ja foi escovar os dentes... no ônibus, no bar, dentro da minha própria casa, vejo as pessoas vomitando impropérios contra esse tal Alexandre e a Anna Carolina. E aparentemente estão chegando à conclusão de que eles são culpados. Acredito sim, que muito da "culpa" deles deve-se à imprensa. Costumo ver televisão antes de ir trabalhar, e chega a dar náuseas o que os jornalistas (alguns, claro) fazem, o nível de sensacionalismo que imprimem a esse caso. OK, foi um crime bárbaro, mas às vezes a imprensa complica a vida de quem deve cuidar da correta solução dele. Lembro bem do caso do ônibus 174 (era assim o número? Minha memória é phoda com ph). Penso que teria sido resolver aquele caso. Mas a imprensa caiu em cima como piranhas atacando um boi dentro do rio. E uma frase de um capitão do BOPE ficou marcada em minha cabeça: "Vocês querem o quê? Com essa imprensa toda fica difícil resolver isso. É muito fácil dar um tiro da cabeça do sequestrador. Mas vocês acham que a família brasileira vai querer ver um quilo de massa encefálica voando para todos os lados?"

Il faur respirer, gamin: nous n'allons pas mourir de rire...

Menina Nina disse...

Complicado mesmo.. a imprensa as vezes não tem limites...

Anônimo disse...

O caso Isabella já deu o que tinha que dar, no começo a noticia tinha que ser informada, mas depois virou um “aue barato”. Pode estar repetindo-se mais um Escola Base, mas segundo as perícias, são grandes as evidencias contra o casal. Alguns veículos de comunicação (principalmente os da região da fatalidade, fizeram um julgamento antecipado, um erro lamentável, mas tudo isso se deu porque a população quis saber sobre o assunto). A impresa tem o inegável poder de manipular (já diziam os primeiros filósofos sobre o assunto, deixa-me ver se lembro das aulas de teorias da comunicação: enfim, não lembro....só para descontrair um pouco :P )
Às vezes torço para que não tenha sido o casal, para que isso acabe de uma vez, mas as investigações (digo as investigações, não o jornalismo sensacionalista) levam para o contrário.

Hoje de manhã, antes de sair para trabalhar, vi uma reportagem sobre violência infantil (todos os tipos de violência): morrem cerca de duas crianças por dia, e ma maioria das vezes, são as pessoas mais próximas que cometem este tipo crime, vulgo, pai, mãe, madrasta, padrasto, tios. E como o carinha (um médico pediatra, não lembro o nome :P) falou: “os familiares que cometem este tipo de abuso não confessam a autoria”.

beijos

Anna Carolina ; disse...

O caso Isabella já deu o que tinha que dar ;/
eu acho que não irão encontrar o culpado ..
serão os pais indiciados,
além do mais, n ão existe outra explicação de uma terceira pessoa envolvida nisso ;/

Vinícius Ghise disse...

Eu passei a bola, vou tomar um café.

Piero Barcellos disse...

A única coisa que posso comentar é que a Isabela teria sobrevivido se tivesse usado a técnica do padre voador.

Leandro Luz disse...

Como ja disse em oputros espaços, é uma puta tragédia, muito foda isso, ainda mais para quem tem filhos, como eu. Mas encheu o saco já a cobertura daos veículos de comunicação. Uma merda esse julgamento da imprensa. Deixem isso para a polícia, que esta cumprindo o seu papel e não esta muito a fim de aparecer. Mas os indícios apontam para eles.

Abraço

Alessandra Castro disse...

Tb tou super cansada de toda essa exploração, das manobras, da falta de respeito. Casos assim são espremidos até vc ficar cansado, perdi até minha comoção, agoura eu mudo de canal.