Dezesseis anos

Não lembro muito de como foi. Eu era pequeno. Devia ter menos de um metro e meio. Sei que estava vestindo uma calça azul marinho, uma túnica da mesma cor. O cinto combinava com as duas peças já citadas, com a diferença de ter uma fivela dourada e, no meio, um relevo que mostrava um lobo.

Estou tremendo. Sei disso porque não consigo manter minhas mãos firmes. Um homem negro, alto pra caramba, está na minha frente, me cumprimentando com sua mão esquerda. Olhamos um no olho do outro e ele está sorrindo para mim. Está me dizendo algo que não lembro o que é, mas depois ouço minha voz dizendo algumas plavras que, no momento, não sei o que significam. Eu dizia:

"Prometo fazer o melhor possível para cumprir meus deveres, para com Deus e minha pátria. Obedecer a Lei do Lobinho e ouvir sempre os Velhos Lobos".

Após isso, envolta de meu pescoço é colocado um lenço vermelho com listras brancas. Está enrolado e, para não fazê-lo cair, dentro de um anel de couro. Sobre minha cabeça é colocado um boné azul com finas linhas amarelas.

Vinte e seis de setembro. Estou, então, com 8 anos. Acabo de fazer a minha promessa escoteira. Algumas palavras que, naquele momento, não faziam sentido algum mudaram a minha vida. E para melhor.

Não sei explicar o que é escotismo. Estou neste movimento há 17 anos e, há 16, faço parte desta irmandade por completo. Dezesseis anos - quatorze, se descontar os dois anos que fiquei afastado por experimentar outras coisas - é muita coisa. É uma vida. Uma vida que gosto e não faço questão nenhuma de sair. E mesmo assim não sei explicar o que é ser escoteiro. O único jeito de saber é estar nele: no meu caso, 17 dos meus quase 24 anos de vida.