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terça-feira, 8 de abril de 2008

Dia do jornalista

Ontem eu tinha publicado, aqui, um baita texto explicando o que me fez ser jornalista, coisa e tal. O problema é que, depois de lê-lo, vi que já tinha escrito algo parecido e resolvi deletá-lo. O "novo" estava mais completo, mas, às vezes, é bom sair do senso comum de "Sempre quis ser jornalista" e aproveitar esse dia para nos criticar. Isso, criticar. Por que, será mesmo, que temos o que comemorar?

Antes de tudo, quero deixar bem claro: amo essa profissão. É do caralho e, como meu pai, economista, diz, "jornalista é pago para viajar, comer e se divertir, tudo de graça". Ele tem razão nisso. Eu que sei. hehehe

Porém, contudo, todavia, entretanto, mas, e outras expressões contraditórias, não vejo motivos para sair bradando "Hoje é dia do jornalista! Parabéns para nós!". No máximo um "urrul", e só.

Isso porque tem muita gente que pensa que ser jornalista é uma maravilha: que ganha bem pra caramba, que sai por aí viajando, e que está cheio de mulher correndo atrás de ti. Tudo mentira. O piso de jornalista, aqui em Porto Alegre, é de R$ 1.220, e, em algumas empresas, tu és exclusivo. Não entendeste? Deixa que explico-te.

Aqui na terrinha gaudéria é o seguinte: quase todos os veículos de comunicação pagam para os jornalistas o piso salarial. Alguns permitem que ele trabalhe em outros locais para completar a renda, mas tem outros que exigem exclusividade. Algo do tipo "Pago-te o piso, mas trabalhas só para mim. Tua vida é minha, e eu sou o diabo". Se fores para outro lugar, tens duas opções: não conta nada à ninguém ou demita-te.

Pautas

Lembro de uma palestra que tive na Unisinos. Um jornalista disse que, quando trabalhava em uma certa empresa, há dez anos, ela tinha cerca de 300 funcionários - sendo 10% estagiário - e cada um tinha, no máximo, cinco pautas para fazer diariamente.

Hoje, com esse maldito ISO, que ressalta o "fazer mais com menos", ele tem 119 coleguinhas e quase 20 assuntos para cobrir diariamente. O pessoal bateu tanto no "fazer mais com menos" que esqueceu do principal: número de pautas não significa qualidade - o mesmo vale para número de mulheres "pegas", mas isso é outra história.

Contratos

Engana-se, também, quem acredita que nós negociamos. Negociamos coisa nenhuma. Os nossos contratos, assim como os dos estágios, já vêm pré-impressos e tu escolhes: ou te sujeitas a isso ou vai procurar outro lugar.

Fora que tem aquelas empresas donas de vários veículos de comunicação. Firmas contrato com uma e, tuas matérias, "voilà" - é assim que se escreve? -, estão nos demais jornalecos desta. O papo é aquele de que "tens mais repercussão, é sinal de que foi bom", mas, na verdade, é uma ilegalidade sem tamanho e, se reclamares, é rua - com direito à justa causa.

Vida social

Essa é uma piada. Jornalista não tem vida social. Vai deixar de ir a muitas festas, muitos casamentos, muitos aniversários, e quase nenhum enterro - de outras pessoas famosas, porque, a família dele, é muito menos importante que a dos outros.

"Vamos mudar o mundo"

Essa é outra piada, mas das mais engraçadas. Muitos acreditam que tal e tal empresa são as verdadeiras e as outras mentirosas. Grande engano. Todas são verdadeiras e mentirosas. Depende do ponto de vista de cada um.

Todas vão cobrir determinado fato, só que com angulação diferente e puxando para a sua linha editoria. Se tu tens um pensamento diferente da empresa, duas opções: ou te ajoelhas e esquece todos os teus princípios - e tenha salário no final do mês durante, pelo menos, um ano - ou te rebelas e te demites - e fica sem salário porque, apesar de odiarem as concorrências, muitos chefinhos se conhecem e vão falar, mal, de ti.

Ética

O que tem de meios de imprensa dizendo por aí que é o mais ético, coisa e tal. Porém, o que alguns aprenderam nas faculdades não se reflete nas ações. É só ver o caso da Escola Base, no qual vários jornais ouviram uma fonte sem checá-la e fizeram a maior merda já conhecida na história da imprensa tupiniquim.

Ok, pagaram indenização, mas e aí? Corrigiram o erro? E os problemas que a galerinha acusada de pedofilia teve - a ponto de ter gente querendo linchá-la?

Nem preciso dizer de uma certa revista, que fez e faz muita caca por aí e diz ser a mais verdadeira do País. Tanto é que o Luis Nassif fez um dossiê sobre a dita cuja. Veja clicando no link acima da palavra Veja.

Mas porquê não largas isso, então, seu revoltado?

Não largo isso por dois motivos - viste como tem "dois motivos" e "duas opções" sempre?: 1) Amo essa profissão, mesmo tendo esses problemas todos; 2) Acredito que posso, sim, fazer algo de útil e mudar um pouco essa porra de mundo.

Enfim, apesar dos pesares, parabéns para nós. Mas, antes de sairmos comemorando, vamos refletir um pouco mais sobre o que temos de melhorar.

***


P.s.: O meu amigo e colega Piero Barcellos deu um ótimo exemplo de algumas merdinhas jornalísticas que temos por aí.

P.s.2: O mesmo Piero, há algum tempo, fez um vídeo sobre o jornalismo que vale a pena dar uma conferida. Como não sei postar vídeos do Google aqui nessa joça, peço-te para clicar aqui e conferir. Uma maneira engraçada de refletir sobre como passamos trabalho nessa profissão que muitos acreditam ser das mais fáceis da vida. Vale à pena, também, dizer que o vídeo foi premiado no Festival Nóia de Fortaleza.

P.s.3: Não escrevi sobre o jogo de panelas, de vaidades, de egos e de tapetes puxados que existe nessa profissão. Até porque isso não é apenas no jornalismo.

9 comentários:

Alessandra Castro disse...

Tb estou nesta área, indow com a maré na realidade, o jornalismo tras tantas oportunidades de aprendizado, mas uma coisa eu não sou: Deslumbrada. Muita gente na minha sala adouraaaa falar em plenos pulmões q jornalista é agente da informação, formado de opnião, mestre, deus, gezus e espirito santo. Acho q toda profissão tem seus abacaxis, de nada adianta sonhar somente com o lado bom.

PS: Minha noss eu me indentifiquei muito com a parte sem vida social. Sou taxada de "a velha" da familia agora. =**

Anônimo disse...

Toda profissão tens seus “altos e baixos”, mas mesmo assim não troco o meu curso por outro (e na verdade, não me vejo fazendo outra coisa), mesmo o meu pai sempre dizendo “essa globo é um câncer” e sempre pegando no meu pé, mas ele sabe que eu gosto mesmo, não estou ali por ser um curso de aparências (pois às vezes isso acontece) eu quero e vou ser jornalista. Mas tem o seu lado ruim, na maioria dos estágios, tu ganha mal pra cacete, muitas vezes tu não tem chance em grandes veículos de comunicação, a peleja é longa, mas eu ainda acho que vale a pena!
Não custa tentar!!

Vinícius Ghise disse...

Uma vez pensei.. "ser feliz profissionalmente é ficar dois dias sem dormir, e ainda sim sentir-se realizado". Jornalismo para mim é isso.

Mar e Ana disse...

Eu nem to fazendo jornalismo ainda, mas letras já me tirou a vida social ¬¬
E mesmo assim, com todos os contras, aaahhh eu qro ser jornalista tbm =p

:*

E eu não to apaixonada! hahahaha é só uma fase idiota q logo passa =p

Anônimo disse...

""" Decifra-me ou devoro-te!!! """

Piero Barcellos disse...

Como muitos professores dizem, isso é uma cachaça, e vicia.
Só acho errado o conformismo que a nossa profissão tem em alguns aspectos, como "a Globo é referência de jornalismo", "Rota 66 e Abusado são os melhores livros da área", dentre outras coisas.

Sim, eu odeio unanimidades.

Leandro Luz disse...

bem certo...
é uma cachaça das boas, mas tem seus problemas.. como postei esses dias no meu blog, tem a arrogancia e de coleguinhas extremistas hehehe

e os probelmas de saúde? Na ZH de hj, no segundo caderno, tem uma crítica de um livro (nao lembro o nome da obra, o jornal nao está mais aqui comigo) mas que fala: o jornalista bebe e fuma demais, é estressado, vive correndo... mas é feliz com o que faz.

e é muito mal pago...

Vá entender?

Abraço

Fábio Ventura disse...

Fala Rodrigo. Aqui no Rio de janeiro as coisas não são tão diferentes. Atualmente não estou na área. Já me decepcionei muito com jornalismo.

O mercado de trabalho está fechado.
Teve um dia q eu vi uma vaga q dizia mais ou menos assim:

"Procura-se estagiário ou profissional de jornalismo. Paga-se R$400,00".

Equiparar um profissional formado com experiência a um estagiário é uma vergonha. O sindicato está com a venda nos olhos.

Na boa. Eu não tenho o q comemorar.

Valeu véio

Anônimo disse...

Atualizei o meu blog ;)
e mesmo assim, eu prefiro o jornalismo

beijos