Dia do jornalista
Ontem eu tinha publicado, aqui, um baita texto explicando o que me fez ser jornalista, coisa e tal. O problema é que, depois de lê-lo, vi que já tinha escrito algo parecido e resolvi deletá-lo. O "novo" estava mais completo, mas, às vezes, é bom sair do senso comum de "Sempre quis ser jornalista" e aproveitar esse dia para nos criticar. Isso, criticar. Por que, será mesmo, que temos o que comemorar?
Antes de tudo, quero deixar bem claro: amo essa profissão. É do caralho e, como meu pai, economista, diz, "jornalista é pago para viajar, comer e se divertir, tudo de graça". Ele tem razão nisso. Eu que sei. hehehe
Porém, contudo, todavia, entretanto, mas, e outras expressões contraditórias, não vejo motivos para sair bradando "Hoje é dia do jornalista! Parabéns para nós!". No máximo um "urrul", e só.
Isso porque tem muita gente que pensa que ser jornalista é uma maravilha: que ganha bem pra caramba, que sai por aí viajando, e que está cheio de mulher correndo atrás de ti. Tudo mentira. O piso de jornalista, aqui em Porto Alegre, é de R$ 1.220, e, em algumas empresas, tu és exclusivo. Não entendeste? Deixa que explico-te.
Aqui na terrinha gaudéria é o seguinte: quase todos os veículos de comunicação pagam para os jornalistas o piso salarial. Alguns permitem que ele trabalhe em outros locais para completar a renda, mas tem outros que exigem exclusividade. Algo do tipo "Pago-te o piso, mas trabalhas só para mim. Tua vida é minha, e eu sou o diabo". Se fores para outro lugar, tens duas opções: não conta nada à ninguém ou demita-te.
Pautas
Lembro de uma palestra que tive na Unisinos. Um jornalista disse que, quando trabalhava em uma certa empresa, há dez anos, ela tinha cerca de 300 funcionários - sendo 10% estagiário - e cada um tinha, no máximo, cinco pautas para fazer diariamente.
Hoje, com esse maldito ISO, que ressalta o "fazer mais com menos", ele tem 119 coleguinhas e quase 20 assuntos para cobrir diariamente. O pessoal bateu tanto no "fazer mais com menos" que esqueceu do principal: número de pautas não significa qualidade - o mesmo vale para número de mulheres "pegas", mas isso é outra história.
Contratos
Engana-se, também, quem acredita que nós negociamos. Negociamos coisa nenhuma. Os nossos contratos, assim como os dos estágios, já vêm pré-impressos e tu escolhes: ou te sujeitas a isso ou vai procurar outro lugar.
Fora que tem aquelas empresas donas de vários veículos de comunicação. Firmas contrato com uma e, tuas matérias, "voilà" - é assim que se escreve? -, estão nos demais jornalecos desta. O papo é aquele de que "tens mais repercussão, é sinal de que foi bom", mas, na verdade, é uma ilegalidade sem tamanho e, se reclamares, é rua - com direito à justa causa.
Vida social
Essa é uma piada. Jornalista não tem vida social. Vai deixar de ir a muitas festas, muitos casamentos, muitos aniversários, e quase nenhum enterro - de outras pessoas famosas, porque, a família dele, é muito menos importante que a dos outros.
"Vamos mudar o mundo"
Essa é outra piada, mas das mais engraçadas. Muitos acreditam que tal e tal empresa são as verdadeiras e as outras mentirosas. Grande engano. Todas são verdadeiras e mentirosas. Depende do ponto de vista de cada um.
Todas vão cobrir determinado fato, só que com angulação diferente e puxando para a sua linha editoria. Se tu tens um pensamento diferente da empresa, duas opções: ou te ajoelhas e esquece todos os teus princípios - e tenha salário no final do mês durante, pelo menos, um ano - ou te rebelas e te demites - e fica sem salário porque, apesar de odiarem as concorrências, muitos chefinhos se conhecem e vão falar, mal, de ti.
Ética
O que tem de meios de imprensa dizendo por aí que é o mais ético, coisa e tal. Porém, o que alguns aprenderam nas faculdades não se reflete nas ações. É só ver o caso da Escola Base, no qual vários jornais ouviram uma fonte sem checá-la e fizeram a maior merda já conhecida na história da imprensa tupiniquim.
Ok, pagaram indenização, mas e aí? Corrigiram o erro? E os problemas que a galerinha acusada de pedofilia teve - a ponto de ter gente querendo linchá-la?
Nem preciso dizer de uma certa revista, que fez e faz muita caca por aí e diz ser a mais verdadeira do País. Tanto é que o Luis Nassif fez um dossiê sobre a dita cuja. Veja clicando no link acima da palavra Veja.
Mas porquê não largas isso, então, seu revoltado?
Não largo isso por dois motivos - viste como tem "dois motivos" e "duas opções" sempre?: 1) Amo essa profissão, mesmo tendo esses problemas todos; 2) Acredito que posso, sim, fazer algo de útil e mudar um pouco essa porra de mundo.
Enfim, apesar dos pesares, parabéns para nós. Mas, antes de sairmos comemorando, vamos refletir um pouco mais sobre o que temos de melhorar.
***
P.s.: O meu amigo e colega Piero Barcellos deu um ótimo exemplo de algumas merdinhas jornalísticas que temos por aí.
P.s.2: O mesmo Piero, há algum tempo, fez um vídeo sobre o jornalismo que vale a pena dar uma conferida. Como não sei postar vídeos do Google aqui nessa joça, peço-te para clicar aqui e conferir. Uma maneira engraçada de refletir sobre como passamos trabalho nessa profissão que muitos acreditam ser das mais fáceis da vida. Vale à pena, também, dizer que o vídeo foi premiado no Festival Nóia de Fortaleza.
P.s.3: Não escrevi sobre o jogo de panelas, de vaidades, de egos e de tapetes puxados que existe nessa profissão. Até porque isso não é apenas no jornalismo.
Antes de tudo, quero deixar bem claro: amo essa profissão. É do caralho e, como meu pai, economista, diz, "jornalista é pago para viajar, comer e se divertir, tudo de graça". Ele tem razão nisso. Eu que sei. hehehe
Porém, contudo, todavia, entretanto, mas, e outras expressões contraditórias, não vejo motivos para sair bradando "Hoje é dia do jornalista! Parabéns para nós!". No máximo um "urrul", e só.
Isso porque tem muita gente que pensa que ser jornalista é uma maravilha: que ganha bem pra caramba, que sai por aí viajando, e que está cheio de mulher correndo atrás de ti. Tudo mentira. O piso de jornalista, aqui em Porto Alegre, é de R$ 1.220, e, em algumas empresas, tu és exclusivo. Não entendeste? Deixa que explico-te.
Aqui na terrinha gaudéria é o seguinte: quase todos os veículos de comunicação pagam para os jornalistas o piso salarial. Alguns permitem que ele trabalhe em outros locais para completar a renda, mas tem outros que exigem exclusividade. Algo do tipo "Pago-te o piso, mas trabalhas só para mim. Tua vida é minha, e eu sou o diabo". Se fores para outro lugar, tens duas opções: não conta nada à ninguém ou demita-te.
Pautas
Lembro de uma palestra que tive na Unisinos. Um jornalista disse que, quando trabalhava em uma certa empresa, há dez anos, ela tinha cerca de 300 funcionários - sendo 10% estagiário - e cada um tinha, no máximo, cinco pautas para fazer diariamente.
Hoje, com esse maldito ISO, que ressalta o "fazer mais com menos", ele tem 119 coleguinhas e quase 20 assuntos para cobrir diariamente. O pessoal bateu tanto no "fazer mais com menos" que esqueceu do principal: número de pautas não significa qualidade - o mesmo vale para número de mulheres "pegas", mas isso é outra história.
Contratos
Engana-se, também, quem acredita que nós negociamos. Negociamos coisa nenhuma. Os nossos contratos, assim como os dos estágios, já vêm pré-impressos e tu escolhes: ou te sujeitas a isso ou vai procurar outro lugar.
Fora que tem aquelas empresas donas de vários veículos de comunicação. Firmas contrato com uma e, tuas matérias, "voilà" - é assim que se escreve? -, estão nos demais jornalecos desta. O papo é aquele de que "tens mais repercussão, é sinal de que foi bom", mas, na verdade, é uma ilegalidade sem tamanho e, se reclamares, é rua - com direito à justa causa.
Vida social
Essa é uma piada. Jornalista não tem vida social. Vai deixar de ir a muitas festas, muitos casamentos, muitos aniversários, e quase nenhum enterro - de outras pessoas famosas, porque, a família dele, é muito menos importante que a dos outros.
"Vamos mudar o mundo"
Essa é outra piada, mas das mais engraçadas. Muitos acreditam que tal e tal empresa são as verdadeiras e as outras mentirosas. Grande engano. Todas são verdadeiras e mentirosas. Depende do ponto de vista de cada um.
Todas vão cobrir determinado fato, só que com angulação diferente e puxando para a sua linha editoria. Se tu tens um pensamento diferente da empresa, duas opções: ou te ajoelhas e esquece todos os teus princípios - e tenha salário no final do mês durante, pelo menos, um ano - ou te rebelas e te demites - e fica sem salário porque, apesar de odiarem as concorrências, muitos chefinhos se conhecem e vão falar, mal, de ti.
Ética
O que tem de meios de imprensa dizendo por aí que é o mais ético, coisa e tal. Porém, o que alguns aprenderam nas faculdades não se reflete nas ações. É só ver o caso da Escola Base, no qual vários jornais ouviram uma fonte sem checá-la e fizeram a maior merda já conhecida na história da imprensa tupiniquim.
Ok, pagaram indenização, mas e aí? Corrigiram o erro? E os problemas que a galerinha acusada de pedofilia teve - a ponto de ter gente querendo linchá-la?
Nem preciso dizer de uma certa revista, que fez e faz muita caca por aí e diz ser a mais verdadeira do País. Tanto é que o Luis Nassif fez um dossiê sobre a dita cuja. Veja clicando no link acima da palavra Veja.
Mas porquê não largas isso, então, seu revoltado?
Não largo isso por dois motivos - viste como tem "dois motivos" e "duas opções" sempre?: 1) Amo essa profissão, mesmo tendo esses problemas todos; 2) Acredito que posso, sim, fazer algo de útil e mudar um pouco essa porra de mundo.
Enfim, apesar dos pesares, parabéns para nós. Mas, antes de sairmos comemorando, vamos refletir um pouco mais sobre o que temos de melhorar.
P.s.: O meu amigo e colega Piero Barcellos deu um ótimo exemplo de algumas merdinhas jornalísticas que temos por aí.
P.s.2: O mesmo Piero, há algum tempo, fez um vídeo sobre o jornalismo que vale a pena dar uma conferida. Como não sei postar vídeos do Google aqui nessa joça, peço-te para clicar aqui e conferir. Uma maneira engraçada de refletir sobre como passamos trabalho nessa profissão que muitos acreditam ser das mais fáceis da vida. Vale à pena, também, dizer que o vídeo foi premiado no Festival Nóia de Fortaleza.
P.s.3: Não escrevi sobre o jogo de panelas, de vaidades, de egos e de tapetes puxados que existe nessa profissão. Até porque isso não é apenas no jornalismo.
9 comentários:
Tb estou nesta área, indow com a maré na realidade, o jornalismo tras tantas oportunidades de aprendizado, mas uma coisa eu não sou: Deslumbrada. Muita gente na minha sala adouraaaa falar em plenos pulmões q jornalista é agente da informação, formado de opnião, mestre, deus, gezus e espirito santo. Acho q toda profissão tem seus abacaxis, de nada adianta sonhar somente com o lado bom.
PS: Minha noss eu me indentifiquei muito com a parte sem vida social. Sou taxada de "a velha" da familia agora. =**
Toda profissão tens seus “altos e baixos”, mas mesmo assim não troco o meu curso por outro (e na verdade, não me vejo fazendo outra coisa), mesmo o meu pai sempre dizendo “essa globo é um câncer” e sempre pegando no meu pé, mas ele sabe que eu gosto mesmo, não estou ali por ser um curso de aparências (pois às vezes isso acontece) eu quero e vou ser jornalista. Mas tem o seu lado ruim, na maioria dos estágios, tu ganha mal pra cacete, muitas vezes tu não tem chance em grandes veículos de comunicação, a peleja é longa, mas eu ainda acho que vale a pena!
Não custa tentar!!
Uma vez pensei.. "ser feliz profissionalmente é ficar dois dias sem dormir, e ainda sim sentir-se realizado". Jornalismo para mim é isso.
Eu nem to fazendo jornalismo ainda, mas letras já me tirou a vida social ¬¬
E mesmo assim, com todos os contras, aaahhh eu qro ser jornalista tbm =p
:*
E eu não to apaixonada! hahahaha é só uma fase idiota q logo passa =p
""" Decifra-me ou devoro-te!!! """
Como muitos professores dizem, isso é uma cachaça, e vicia.
Só acho errado o conformismo que a nossa profissão tem em alguns aspectos, como "a Globo é referência de jornalismo", "Rota 66 e Abusado são os melhores livros da área", dentre outras coisas.
Sim, eu odeio unanimidades.
bem certo...
é uma cachaça das boas, mas tem seus problemas.. como postei esses dias no meu blog, tem a arrogancia e de coleguinhas extremistas hehehe
e os probelmas de saúde? Na ZH de hj, no segundo caderno, tem uma crítica de um livro (nao lembro o nome da obra, o jornal nao está mais aqui comigo) mas que fala: o jornalista bebe e fuma demais, é estressado, vive correndo... mas é feliz com o que faz.
e é muito mal pago...
Vá entender?
Abraço
Fala Rodrigo. Aqui no Rio de janeiro as coisas não são tão diferentes. Atualmente não estou na área. Já me decepcionei muito com jornalismo.
O mercado de trabalho está fechado.
Teve um dia q eu vi uma vaga q dizia mais ou menos assim:
"Procura-se estagiário ou profissional de jornalismo. Paga-se R$400,00".
Equiparar um profissional formado com experiência a um estagiário é uma vergonha. O sindicato está com a venda nos olhos.
Na boa. Eu não tenho o q comemorar.
Valeu véio
Atualizei o meu blog ;)
e mesmo assim, eu prefiro o jornalismo
beijos
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