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sexta-feira, 15 de agosto de 2008

O mercado é dos melhores

Há tempos pretendo fazer um texto sobre o assunto. Na verdade, este post é destinado, mais, àqueles que são ou que pretendem ser jornalistas – sejam universitários ou simpatizantes desta maravilhosa profissão. Caso não esteja entendendo lhufas, eu explico: está para ser julgado nesse semestre o julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 511961, que trata da desregulamentação da profissão de jornalista.

Confesso que ainda não tenho posição formada. Em determinados momentos, acredito que a profissão deva ser regulamentada. Porém, em outros, penso o contrário. E, atualmente, me vejo sendo indiferente com relação à questão.

“Mas logo tu, um estudante de jornalismo, que vai se formar no fim do ano, não defende a tua própria profissão?”, devem estar se perguntando alguns que lêem este blog que, aos poucos, fica reconhecido por alguns. Inclusive, outros, devem estar louco pra denunciar este espaço para o Sindicato dos Jornalistas e para a Federação Nacional dos Jornalistas, credenciando como um inimigo da profissão. O que, de fato, não é verdade.

Defendo a minha futura profissão, sim. Sempre fiz isso e não vai ser hoje que deixarei de defender. Mas o que a gente tem que ser, nesse momento, é racional, e não emocional.

Nessa questão, eu sou indiferente. Para mim, no momento, tanto faz se a profissão será ou não regulamentada.

O jornalismo, para quem não sabe, é muito mais que escrever. A técnica de jornalismo é fácil e qualquer um alfabetizado pode faze-lo sem cerimônias. É fato. É só ler os jornais para aprender a escrever uma notícia, as revistas para escrever uma reportagem, e o mesmo vale para televisão e rádio.

“Mas onde está o problema?”, deve ter perguntado o rato do banhado. Está nas universidades. As instituições de ensino superior sempre foram locais de formação de pensadores, antes de tudo. E, infelizmente, a maioria – pra não dizer todas – das que defendem o diploma de jornalismo não formam nada mais do que técnicos.

Ora, com que base digo isso? Com base nos meus cinco anos de faculdade. Foram poucas as cadeiras em que debatemos o que é a profissão “jornalista”. Poucos, aliás, dão importância às disciplinas teóricas, como semiologia e antropologia. Dizem “para que estudar isso, se eu quero escrever?”. E isso torna essas pessoas contraditórias, porque dizem que a faculdade é boa por causa da teoria. Onde está a maldita reflexão tanto defendida como valorosa para a regulamentação da profissão?

Os sindicatos dos jornalistas e a própria Fenaj adoram um terrorismo. Vivem dizendo que, caso a desregulamentação seja aprovada, as faculdades de jornalismo acabarão e o caralho a quatro. Baita baboseira: o curso continuará e será feito como uma qualificação – tal qual é feito hoje.

Outra besteira para defender seus fracos argumentos é a de que o mercado exige pessoas qualificadas. Isso é fato. Só que não vai ser um diploma que dirá que eu sou melhor que outro, mas sim as minhas ações enquanto profissional. Eu posso ser um diplomado, mas ser um baita filho da puta e um jornalista vendido – como tem aos montes por aí.

Mas o argumento mais furado é o de que qualquer um será jornalista e as grandes empresas contratarão os mais baratos. Olha, isso só acontecerá se o dono do jornal for um inescrupuloso filho da puta que não tem que se preocupar com retorno do seu veículo. Porque empresário nenhum vai contratar uma pessoa incapacitada para colocar a credibilidade do jornal no lixo. Como diz o título: o mercado será dos melhores.

A bagagem teórica que a universidade proporciona é magnífica. É, na verdade, o diferencial que tornará o jornalista diplomado muitas vezes melhor que um não diplomado. Porém, não será regra.

Até porque não tem como levar a sério jornalistas com o papel emoldurado em casa, dizendo-se qualificado, mas que não sabe diferenciar “mas” de “mais”, e escreve “menas” em vez de “menos”, ou “seje” em vez de “seja”. Tu podes estar rindo agora, mas é verdade. Muitos jornalistas formados não sabem nem escrever o português corretamente, nem onde encerrar uma frase.

É assim que querem defender o diploma? Se for, estão fodidos.

***


P.s.1: Não toquei, diretamente, no assunto de ética porque, convenhamos, não é o diploma que vai dizer que uma pessoa é mais ética que a outra.

P.s.2: Para ler um texto favorável, escrito por estudante, clica aqui. Um que, digamos, está na mesma situação que eu, clica aqui. Mais um favorável, aqui.

15 comentários:

Anônimo disse...

eeee mt bom!
concordo com os teus argumentos...
e tu escreve mt bem!

Bju

Anônimo disse...

vc escreve muito bem, e com fácil entendimento. gostei, desejo sorte e sucesso!
bjosss...

RAMiRO FURQUiM disse...

Quem nos deu bons argumentos foi o PO(Pedro Osório)... De resto, só ladainha... Pois eu não sei, também, se sou contra ou a favor... Fato é que, tecnicista do jeito que está, o ensino levará à desregulamentação... Os bons Comunicólogos terão lugar e credibilidade no "mercado"...

Idylla disse...

eU CONCORDO PLENAMENTE C VC....MUITOS ALUNOS SAEM DAS FACULDADES HJ EM DIA COMO TÉCNICOS, E N COMO JORNALISTAS, A COISA TA TOMANDO UM RUMO DIFERENTE...
E SABE DE UMA, ESCREVER EH UM DOM Q EH PARA POUCOS, DIGO ESCREVER BEM, TEM GENTE Q INSISTE EM FAZER JORNALISMO, MAS N TEM O DOM DE DESENROLAR O CONTEÚDO DE ESCREVER BEM....


BJO

Izze. disse...

Tá certo...
É o profissional que faz diferença, não o diploma. E, realmente, esses alunos que reclamam das matérias e depois vem dizer que o conteúdo teórico do curso é muito bom, francamente. Eu acho todos uns baita burros! Boa parte vai pra aula pra ficar jogando conversa e dinheiro fora porque, afinal, se paga para ter aula.
Vai do comportamento e da capacidade de cada um fazer ou não um bom trabalho.

Vinícius Ghise disse...

Acho que temosd que ir pro boteco debater isso, logo.

Novas percepções surgirão... hehe

Gabi disse...

Que mané boteco vinícius... Havera uma discussão pegada sobre isso no DA semana que vem!

Na real eu também não sou posicionada em relação... Falam de piso salarial mas aqui entre nós.. Quem está fazendo jornalismo por dinheiro?!

Acho que os argumentos usados pelas parte são falhas. Estamos sendo bombardeados de coisas vazias... Tão querendo nos obrigar a pensar de uma determinada forma.

Defendo o diploma mas por questões minhas... Que tu poderás conferir no Zine o DA que circulará durante a calourada (escrevi pra lá).

No mais... quero escrever igual ao Gabardo quando eu crescer. Já disse isso pra ele!

Leandro Luz disse...

Bah, esse tema é polêmico mesmo!

Essa semana na Ulbra tivemos um debate com o pessoal so sindicato dos jornalistas do Rs, e foi muito interessante. Apesar de eu ter achado o pessoal do sindicato muito despreparado.

Minha opinião? A princípio sou a favor do diploma, talvez escreva um post com minhas argumentações, mas as tuas foram muito bem postas!

Abraço

Anônimo disse...

Eu tenho uma opinião bem clara: sou a favor da obrigatoriedade do diploma. Para mim, não é “qualquer um” que pode ser jornalista, há um outro cunho preparativo para tal, e a regulamentação seria mais um ponto a favor dos profissionais que buscam a qualificação e uma comunicação saudável.
Eu vejo muita diferença entre escrever e ser jornalista. Muitas pessoas dizem “qualquer um pode escrever”, “jornalismo é só escrever”, não. O jornalismo não é só isso, engloba um parâmetro muito abrangente. Escrever, escrever também não é fácil, tomemos como exemplo o mundo dos blogs, há muitas pessoas que não são acadêmicos de jornalismo, mas tem habilidade para escrita, mas será que teriam habilidade para ser um jornalista?
Essas perguntas que ronda a minha mente ultimamente.

Outro ponto que as pessoas abordam é que da faculdade saem muitos alunos despreparados para o mercado de trabalho, que não saem “jornalista e sim técnicos” como alguns mencionaram aí em cima. Mas este detalhe não ocorre somente com os alunos do curso de jornalismo, há muitos estudantes de medicina que se tornam uma porcaria de médicos, estudantes de direito que viram advogados de merda, engenheiros que não sabem nem construir uma ponte, pois teve erros de cálculos, há vários exemplos, mas todos eles necessitam de uma porra de um diploma para poder exercer a profissão. Porque o profissional de jornalismo não pode ter esse direito? O blá, blá, blá que vai acabar a liberdade de expressão de impressa e o caralho é quatro, isso não passa de papo furado, essas argumentações não tem fundamento. Quem quiser se expressar ou botar a boca no trombone irá fazer, só que inconseqüentemente vai arcar com as conseqüências, caso isso ocorra. Porque, apesar de existir grandes veículos de comunicação – os quais são administrados por núcleos familiares –não deixam de ser uma empresa, o qual precisa lucrar, e principalmente depende de patrocínios, tudo é uma questão de jogo de interesses.

E por incrível que se possa parecer, ainda existem profissionais que fazem uma comunicação de qualidade, visando manter uma sociedade informada.
Em toda profissão há profissionais qualificados e os que ainda não estão preparados. Como tu falaste, o mercado vai selecionar os melhores. Eu sou a favor do diploma, sim.

Beijos!

Rodrigo Dias disse...

Enfim, meu objetivo foi conquistado - apesar de não ter muitos comentários. O tema é polêmico, sim, Leandro, mas é necessário. Enquanto não tivermos um debate decente sobre a profissão de jornalista, cada vez mais o risco de a profissão ser desregulamentada - o que não invalida o diploma - se torna uma realidade.

Enfim, não botei a minha opinião porque ela, senão, eu detonaria a intenção do post. Acredito que o diploma comprova a qualificação de jornalista. O problema é que os argumentos utilizados tanto pela Fenaj, quanto pelo sindicato, universidade e estudantes são fraquíssimos.

Leandro, o Sindicato fez a mesma palestra na Unisinos, que eles chamaram de Mesa-Redonda. Por mesa-redonda tu pensa que é um debate, mas foi uma palestra. Enfim, vou parar de enrolar.

O Sindicato se mostrou muito despreparado. Não consegue formular uma tese decente pra defesa do diploma que não seja "tchê, tu tá investindo praticamente um apartamento na universidade. Tem que fazer valer teu direito de ter gasto essa grana pra ser jornalista".

Ou seja, não refletem sobre a importância do jornalismo qualificado - ou seja, profissionais dipolmados - para uma possível mudança da sociedade, para melhor, diga-se.

Enquanto a gente não tiver um sindicato, ou uma representação qualquer, que seja forte, que saiba como colocar os jornalistas do mesmo lado, estaremos nessa lenga-lenga e com muita gente achando que "jornalismo é só escrever". Aliás, muitos jornalistas só escrevem, e não fazem um debate sobre como aproveitar melhor determinada pauta. Isso é fato e vai continuar ocorrendo: a pessoa sendo diplomada ou não.

Tá, vamos adiante. É difícil manter jornalistas unidos porque uma coisa que tem muito "profissional" por aí, formado ou provisionado, que só quer saber de acabar com a carreira do outro. Somos antropofágicos nessa questão. Eu sou melhor que ele e vou foder com ele. Ou será que já viram advogado processando advogado ou médico processando médico?

Os publicitários, por exemplo, não precisam de diploma pra atuar, mas são muito mais recompensados - dizem alguns publicitários que conheço - por serem uma classe unida.

É preciso mudar isso. Como? Fazendo debates interessantes, não juntando meia-dúzia de reacionários detonando a grande imprensa.

Falando em grande imprensa, muita gente critica a grande imprensa, chama de filho-da-puta e tal, mas abre logo as perninhas pra poder trabalhar lá. Por que? A faculdade nos molda técnicos, ou seja, peões de mercado. O que ela manda a gente faz e pronto.

E sobre a liberdade de expressão... porra, piada. Tanto com diploma quanto sem diploma, a liberdade de expressão não existirá, porque nunca existiu. Todos os veículos que tu trabalhar vão exigir que tu faça matérias de acordo com a linha editorial dela. A própria edição de matérias já exclui o mito "liberdade de expressão".

O único lugar que tem liberdade de expressão é na internet, nos blogs. Mas o sindicato já defende que os blogs têm que ser comandados por jornalistas. Pera aí? E o colaborativismo que a internet proporciona? Colocar os blogs como ferramentas só pra jornalistas não é o mesmo que tolher a liberdade de expressão dos demais? Cadê a coerência do discurso/prática?

E ainda tem o fato de o sindicato ser contra os estágios - palavra do presidente da entidade -, defender, no momento, a não regulamentação desta que é uma fonte de aprendizado de qualquer ser humano que pretende se qualificar como profissional. Só que a incoerêcia está justamente em ser contra, não regulamentar, mas fazer acordos com empresas para que possam ter estagiários. Vamos se decidir?

Enfim, fiz um outro post, mas espero ter esclarecido mais algumas coisas que eu penso. E vamos debater.

Vanessa Pinho disse...

"Até porque não tem como levar a sério jornalistas com o papel emoldurado em casa, dizendo-se qualificado, mas que não sabe diferenciar “mas” de “mais”, e escreve “menas” em vez de “menos”, ou “seje” em vez de “seja”. Tu podes estar rindo agora, mas é verdade. Muitos jornalistas formados não sabem nem escrever o português corretamente, nem onde encerrar uma frase."

Tô aqui rindo sozinha... Já peguei jornalistas cometendo esses errinhos nada básicos.
É de chorar no cantinho.
Acho que escrever é um dom.
Conheço muita gente sem diploma que escreve que é uma beleza. Enquanto outros diplomados estão aí envergonhando a profissão. Não só na maneira de escrever, mas na maneira de se expressar.

Uma comédia.

Vanessa Pinho disse...

Sim, a coisa vai muito mais além do que "saber escrever".
Apenas quis mostrar que concordava contigo quando você disse:

"Até porque não tem como levar a sério jornalistas com o papel emoldurado em casa, dizendo-se qualificado, mas que não sabe diferenciar “mas” de “mais”, e escreve “menas” em vez de “menos”, ou “seje” em vez de “seja”. Tu podes estar rindo agora, mas é verdade. Muitos jornalistas formados não sabem nem escrever o português corretamente, nem onde encerrar uma frase."


Certo?

Rodrigo Dias disse...

Certo, mana!

Anônimo disse...

"Ou será que já viram advogado processando advogado ou médico processando médico?"

Olha Rodrigo, acho que este tipo de "engavetamento" existe em qualquer profissão, todo mundo quer ser o melhor, isso não é somente um "privilégio" de quem é ou vai ser um jornalista.

Quanto na forma de escrita errada, muitas vezes me peguei rindo de advogados escrevendo equivocadamente errado, e eles têm a mesma responsabilidade de ter uma escrita – digamos – quase que perfeita. Daí nesse quesito penso da seguinte forma, quem quer se qualificar irá fazer, e com isso se aprimorar, quem não quer, vai virar motivo de chacota e com certeza virá um melhor para assumir o seu lugar. Eu acho simples assim.

Na questão da "liberdade de impressa" como eu mesma coloquei aí em cima, ela não existe. Os grandes veículos de comunicação são comandados por núcleos familiares, e além do mais, são empresas, e toda empresa tem funcionário e qual é a lógica: ou tu trabalha de acordo com as regras da empresa ou tu larga fora, pois o que mais tem é neguinho querendo trabalhar. Isso para mim chama-se mercado de trabalho, e ele se encarregará de selecionar os melhores, eu acredito muito nisso.

Na questão dos blogs, isso não pode ser uma ferramenta “exclusiva” de quem é ou será jornalista, isso não tem fundamento.

Muitas pessoas têm o dom de escrever, sim, mas será que teriam o dom de ser jornalista? Acho que uma coisa não tem nada haver com a outra, não existe uma regra válida para tal.

Até me deu uma vontade de escrever sobre o assunto.

Beijos!!

Anônimo disse...

rodrigo, nao sei quanto à questao do diploma, mas no nosso meio (automobilismo) vemos muitos "jornalistas" formados e que estão claramente despreparados para exercer a profissao e isso está acabando com nosso esporte.
vc dev receber, assim como eu, diversos releases que nao vale nem a pena ler de tao ridículos que sao, isso sem contar com algumas transmissoes esportivas (lembrando a todos que estou comentando apenas dentro do automobilismo pois é o esporte que eu pratico e trabalho) em que os narradores e comentaristas, jornalistas formados, nao possuem um conhecimento mínimo sobre a categoria ou sobre seus pilotos.
sobre essa questao de narradores e comentaristas, num dos foruns de automobilismo que participo, criamos uma pasta para comentar o despreparo dos "jornalistas" profissionais, chegando ao cúmulo de um narrador falar que o conta-giros do carro era o velocimetro e falar que o carro nao possuia retrovisores (na nascar, categoria mais famosa nos EUA, os carros nao possuem retrovisores laterais externos salientes mas sim dois pequenos retrovisores laterais que ficam dentro do carro e um grande retrovisor central)